Acordei no chão, sentindo o frio passar pelo assoalho e percorrer todo meu sistema. Levo um tempo para me situar. Na verdade, não sei direito onde estou. É um quarto escuro e com um aspecto sombrio, horripilante. Talvez o quarto não seja assim sempre, mas a única fonte de luz provém de uma brecha nas cortinas da janela do outro lado do quarto.
Lentamente me levanto. Sinto uma fisgada terrível em meu ombro, que não faço ideia de como surgiu. A cama está toda desarrumada, porém não há ninguém nela, menos mal. Vou de encontro a uma penteadeira que fica no canto do cômodo, me olho no espelho e me assusto. Este simplesmente não sou eu, não posso ser! Fico paralisado, sem reação. O que houve comigo? Onde estou? Esta pessoa no reflexo… sou eu? Fico um tempo refletindo. Não consigo nem lembrar meu nome nem minha idade. Quem sou eu?
Quando acordo do meu transe, procuro alguma referência ao meu redor. Encontro uma porta à minha direita. Ao dar o primeiro passo em direção à mesma, fico paralisado. Não de susto, ou de medo, mas involuntariamente. Olho em direção a meus pés e vejo um braço negro e esquelético saindo de um buraco escuro no chão e agarrando minha perna direita, na altura da canela.
Não consigo me mover, não consigo gritar, não consigo reagir. O tal braço começa a me puxar aos poucos para o buraco negro, que antes não estava ali, e eu nada posso fazer para impedi-lo. Outro braço surge do mesmo buraco e agarra meu pé esquerdo, fazendo com que meu corpo afunde mais rápido.
Logo meus joelhos já estavam imersos na obscuridade do buraco. Minhas coxas. Meu quadril. Não vejo, mas sinto vários outros braços agarrando as partes já imersas do meu corpo, enquanto outros emergem do buraco e agarram meus braços. Não resta sentimento algum de esperança em mim e sinto o fim cada vez mais próximo.
Minha barriga. Meu peito. Tudo é aos poucos engolido pela escuridão. Saber meu nome, quem sou ou de onde vim já não faz mais importância. Não sei se realmente quero saber para onde estou indo. Ou melhor, para onde estou sendo levado. Meus ombros. Meu pescoço.
Fora do buraco, resta apenas minha cabeça, que logo será também engolida. Os braços me arranham e me apertam. Sinto que nunca tive uma dor igual a essa em toda minha vida, mas não sei dizer ao certo, pois não me lembro de nada da minha vida. Quero gritar, quero espernear, quero dizer “não” e sair dali, mas o buraco parece cada vez maior à medida que minha cabeça afunda. Acabou a esperança. Acabou o calor. Acabou minha vontade de lutar. Só me resta aceitar que não há mais como lutar. E afundo, afundo sem ver nada ao meu redor, é tudo preto. E a dor se intensifica. Eu quero morrer, quero morrer. “Me mate”, eu grito mentalmente, “por favor!”, suplico.
E felizmente, ou não, sou atendido.